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domingo, 4 de julho de 2010

‘FALTA MEMÓRIA CULTURAL’



Rodrigo Alves - Entrevista/Carlos Sena

Artista plástico e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG Carlos Sena tem posições veementes sobre o mercado de arte de Goiás. “Ele não existe em Goiânia, falta tudo para que se desenvolva”, afirma. Confira a entrevista que Sena concedeu ao POPULAR.

No final dos anos 70 e 80 houve um período áureo em Goiânia. Por que mudou?
A efervescência do mercado goiano nos anos 80 começou após uma série de ajustes na balança comercial internacional, que permitiu a estabilização do mercado. Isso permitia que houvesse uma corrida às compras por conta do equilíbrio da balança, entre eles bens simbólicos como artes. Nesta época, as galerias mandavam. Houve um inchamento do mercado e Goiânia teve cerca de 18 galerias de arte. Nos anos 90, houve uma derrocada da balança comercial e a inflação galopante e isso fez com que essas galerias fechassem com a mesma euforia que abriram.

O que mudou?
O artista procurou outros espaços como o museu.A arte buscou outra acomodação que não no gosto e na casa do comprador de arte. Mudou de território. E o mercado de arte, se é que podemos chamá-lo assim, passou a existir centrado em um gosto mais defasado e assimilado, ou seja, hoje não existe mais arte no que se vende no mercado, mas o artístico. Curiosamente você não vê artistas como Marcelo Solá e Divino Sobral, de respaldo nacional, nos museus locais e no mercado. Eles vão para fora. Não é dizer que o comprador daqui seja desinformado e que não compra arte. Aqui há gente que tem Nuno Ramos, Leda Catunda, Hélio Oiticica. Mas ele compra lá fora, no circuito avançado. Quando muito compra do próprio artista, mas não da galeria.

Por que esse cenário emergiu?
No nosso caso, cidade com menos de cem anos, mesmo os pioneiros da arte valem muito pouco no mercado local. Não houve respeito nem investimento oficial para dar dignidade a este artista goiano. As políticas culturais pouco dão bola para isso. Que tipo de memória vamos desenvolver assim? Nenhuma. O artista perde em memória. Como o público está em formação, o que o decorador disser, ele tende a assimilar. A culpa é da deseducação, da falta de memória cultural, da universidade e até da falta de uma mídia especializada.

Há solução?
Está ficando tão redundante repetir essa frase no Brasil, ainda mais na época de eleição, mas isso passa pela educação. Enquanto se enxergar arte como diletantismo de quem tem posses, e não como um processo de humanização do indivíduo, não vamos mudar isso. Não há artista ou galerista que possa fazer algo.

GOIÂNIA, domingo 16 de maio de 2010 MAGAZINE / O POPULAR 7

O Centro Cultural Oscar Niemeyer é de todos



Li e recomendo o artigo que o diretor cultural da Acieg, Leopoldo Veiga Jardim, escreveu sobre o abandono do Centro Cultural Oscar Niemeyer, nesta sexta-feira, 26 de fevereiro, no jornal Diário da Manhã - Marconi Perillo

Leopoldo Veiga Jardim

Volto a escrever neste jornal sobre um assunto muito delicado e que tem mexido muito com a opinião pública de todos os goianos: o abandono do Centro Cultural Oscar Niemeyer, que já dura muito tempo e mantém Goiânia orfã de um bom espaço cultural.

A obra, quando inaugurada em 30 de março de 2006, movimentou o setor cultural e encheu de boas expectativas os amantes da cultura. Gilmar Camilo, ex-diretor do espaço, organizou excelentes mostras de artes plásticas que até hoje repercutem no meio. Alguns eventos que ali aconteceram, como o Goiania Noise, um dos maiores e mais respeitados festivais de rock alternativo do Brasil, projetou o espaço como um centro que aglutinaria bons eventos regionais e nacionais. Criou-se um sentimento delicioso de que finalmente Goiânia recebera um presente que marcaria a sua história para sempre. Ouvi da própria cantora e intérprete Simone na grande noite de inauguração, elogios empolgantes e entusiasmados sobre o novo espaço.

O tempo passou, o lugar foi abandonado, as críticas começaram a surgir. E até começou uma briga política desnecessária pela busca de culpados pela paralisação das obras e seu fechamento definitivo para eventos. O que queremos não é buscar quem fez ou quem deixou de fazer o Centro Cultural, o que nos interesse e colocar um ponto final no abandono dele e abrir as portas deste espaço tão importante e que muito tem a contribuir para o desenvolvimento da cultura de Goiás.

Eventos como Goiania Noise, da Monstros Discos, o Vaca Amarela, da Fósforo Cultural, o Goiania Mostra Curtas do Icuman e tantos outros promovidos por tantas entidades culturais que lutam, muitas vezes sozinhas, para fazer de Goiás um Estado que respira cultura, mostram que o Centro Cultural pode fazer com que Goiânia brilhe como cidade referência em cultura.

Estive recentemente em viagem profissional à Roma, França e Dublin conhecendo espaços e projetos culturais que deram certo nesses países e o que percebo é que ações simples funcionam muito bem e mudam toda uma realidade local. Ficar preso a questões políticas, a brigas desnecessárias, podem até buscar atingir de alguma forma um ou outro político, mas o grande prejudicado em toda essa história é a população que fica aguardando uma definição positiva.

Oscar Niemeyer acaba de completar 103 anos, forte e saudável. Esse destacado homem da história brasileira foi personagem de importantes momentos da história do Brasil, desde a criação da capital federal até a elaboração dos mais importantes complexos culturais em todo o país. Sinto uma vergonha imensa ao ler recentes artigos, que este homem tem apenas uma pendência na vida! Apenas uma cidade o fez perder o sono! Pasmem, esta cidade é Goiânia! A obra está inacabada e se acabando. Que vergonha!

Dia 27 de março, um grupo de amantes da cultura irá fazer uma manifestação, não contra alguém, e sim a favor da cultura de Goiás, a favor de um patrimônio que está abandonado e que precisa ser reativado, a favor desta linda cidade que vem se tornando aos poucos uma grande referência em cultura, a favor do povo goiano.

Pablo Kossa, grande amigo e o articulador do movimento, deu uma declaração importante em recente matéria deste jornal e que expressa o sentimento de todos: “Pouco me importa o passado, não me interessa de quem é a culpa, me interessa como cidadão é que o espaço funcione”. Com este clamor, convido a todos os amigos da cultura que se manifestem, apoiando a finalização e abertura do Centro Cultural.

Sou simpático ao movimento principalmente pelo seu caráter apolítico. Não será palanque de nenhum candidato, será a tribuna daqueles que amam Goiânia e querem fazer desta cidade uma cidade modelo em produção cultural.

A arte faz tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, deixemos nossas almas se emocionarem com a arte, com a cultura e assim poderemos sonhar com um mundo melhor e mais humano.

Leopoldo Veiga Jardim é diretor cultural da Acieg e já ocupou interinamente a Secretaria de Cultura de Goiânia.

Publicado originalmente em www.marconiperillo.net/blog/ em 26/2/2010 - photo do Jorge